Confira algumas características culturais no meio trabalhista japonês!
O Japão é conhecido por ser uma das grandes economias mundiais e pela sua característica e extenuante cultura trabalhista. Notícias sobre morte por excesso de trabalho, denominadas 過労死 (karôshi) em japonês, sobre a grande disparidade entre oportunidades de trabalho para homens e mulheres etc., chegam com certa frequência na grande mídia e causa um certo espanto, não é?
Apesar deste tipo de notícia, o país tenta implementar algumas mudanças que buscam amenizar o problema, como a Reforma na Forma de Trabalho (働き方改革, hatarakikata kaikaku) promulgada em 2018 que procurou principalmente estabelecer limites para horas extras, períodos obrigatórios de férias pagas, intervalos regulamentados e outras questões relacionadas ao tema. Outra iniciativa por parte do governo são os programas que buscam estabelecer uma maior igualdade de gênero através de leis, incentivos etc.
Entretanto, não é como se todos os problemas tivessem sido resolvidos. Mas, ainda assim, muito da imagem estereotipada do ambiente de trabalho no Japão que ainda sobrevive no Brasil e noutros países tem sua origem nos ambientes de trabalho japoneses do fim do século passado e, naturalmente, muita coisa se alterou de lá para cá.
Em meio a tudo isto, o país ainda continua atraindo muitas pessoas que sonham em se estabelecer profissionalmente e viver nele. Pensando nisto, nesta postagem vamos falar brevemente sobre a cultura trabalhista japonesa e as suas características e diferenças quando comparada a da América Latina de modo geral.
Procura de emprego
A busca de trabalho no Japão, 就職活動 (shûshoku katsudô), possui algumas características pouco comuns em outras áreas do mundo, como a seleção e contratação em massa de novos funcionários que ainda não se graduaram e que iniciarão na empresa somente em abril do ano seguinte, após a graduação. Esse tipo de sistema é conhecido em japonês como 新卒一括採用 (shinsotsu ikkatsu saiyô), Contratação Simultânea de Novos Graduados. As empresas costumam oferecer palestras em faculdades buscando futuros candidatos para este tipo de contratação e a taxa estudantes que já saem da faculdade com um trabalho garantido é relativamente alta.
O processo de busca de trabalho no Japão segue um calendário especifico que, às vezes, pode durar mais de um ano, principalmente dentro do sistema de Contratação Simultânea de Novos Graduados. Se contratado, os funcionários normalmente começam a trabalhar em abril ou outubro, início dos semestres fiscais no Japão.
Entretanto, para aqueles que não são recém-formados ou que já possuem experiência de trabalho, esses sistema pode ser um tanto diferente e mais flexível. Existem agências de emprego e chamadas das empresas para estas pessoas e o sistema é bem individualizado.
Costume de vestimenta
Outra característica das empresas japonesas é a costumeira vestimenta formal. Normalmente espera-se uma vestimenta mais formal para os trabalhos de escritório que lidam com o processamento, a administração e o gerenciamento de dados, os conhecidos "colarinho-branco". A imagem que talvez seja mais emblemática disto é a dos サラリーマン (sarariiman), outro termo associado aos colarinhos-brancos japoneses.
Muitas empresas atualmente têm flexibilizado o padrão de roupas e permitido estilos mais informais, mas a regra ainda é que se vista formalmente para este tipo de trabalho. Outros empregos, como os que exigem alguma forma de serviço braçal, como os de construção, carpintaria etc., ou de conhecimento e atuação específica, como os de enfermagem, mecânico etc., via de regra possuem um uniforme definido para ser usado durante o expediente.
Comunicação no trabalho
A comunicação no ambiente de trabalho costuma refletir as relações hierárquicas e, nesta lógica, espera-se que o funcionário use o linguajar adequado para tanto. Temos outra postagem em que falamos um pouco sobre os sufixos de tratamento, parte central da comunicação em japonês, mas é comum, por exemplo, que nas empresas todos os funcionários trantem-se respectivamente adicionando o "-san" após o sobrenome.
Além disto, existe um conceito no mundo trabalhista japonês que ainda hoje segue sendo uma diretriz básica deste ambiente. É o 報連相 (hô-ren-sô). O termo é a aglutinação de três palavras, 報告 (hôkoku), relatório, 連絡 (renraku), contato e 相談 (sôdan), consulta. Assim, espera-se que o funcionário seja proativo em relatar os acontecimentos mais importantes ao seu time, em contactar seus responsáveis em caso de algum contratempo ou necessidade e, finalmente, que se aconselhe com seus colegas e superiores de equipe para resolver os problemas que porventura possam surgir.
Essa lógica de trabalho está relacionada a forma como as empresas no Japão são comumente subdividas. A hierarquia é bem estabelecida nas empresas e, em uma mesma empresa, existe diversos times que não necessariamente são subordinados aos outros, mas que possuem sua própria lógica hierárquica interna. Desta forma, o hô-ren-sô funciona também para que cada time, cada líder de time, possa, se for necessário, transmitir as informações essenciais que estão circulando em seu time para os demais times e, assim, agilizar a comunicação entre os setores da empresa.
Muito dessa diretriz reflete-se na estruturação dos escritórios japoneses. Normalmente os escritórios no Japão são estruturados por ilhas de mesas em um ambiente com poucas ou nenhuma parede divisória, o que possibilita a comunicação mais imediata entre os times e os respectivos superiores.
Nomikai, omiyages e obrigações fora do trabalho
Outra característica da cultura trabalhista japonesa são os famosos 飲み会 (nomikai), encontros após o trabalho para beber e socializar, muito próximos da ideia de happy hour difundida também no Brasil. Os nomikai costumam ocorrer após o expediente de trabalho e, muitas vezes, são encarados enquanto uma obrigação extra de trabalho que pode oferecer oportunidade de estreitar os laços com os colegas de empresa. Entretanto, algumas pessoas sentem-se obrigadas a participar deste tipo de socialização por medo de represálias ou alheamento, o que pode acabar se transformando em um fardo mais do que em um momento de descontração.
Outro costume trabalhista japonês é levar lembranças dos locais que se visita nas férias ou em viagens de trabalho. Essas lembranças são conhecidas como お土産 (omiyage) em japonês e, normalmente, são produtos alimentícios que podem ser distribuídos entre os colegas de trabalho. Em alguns casos, funcionários também levam omiyage como pedido de desculpas por algum erro, ausência não planejada ou como agradecimento por algo que aconteceu, apesar deste tipo de omiyage estar sendo alvo de críticas por poder ser interpretado como abuso de poder.
Ainda sobre omiyage, é comum que eles sejam dados quando o funcionário esta se desligando da empresa para expressar a gratidão pelo tempo que passou ali.
E então, o que você achou destes aspectos da cultura trabalhista japonesa? Você acha que conseguiria se adequar a elas e trabalhar no país?
Como último ponto, recomendamos também a iniciativa da Organização de Comércio Exterior do Japão (JETRO) que divulga informações e promove oportunidades de contato direto com empresas japonesas!
Se houver alguma dúvida ou curiosidade, sinta-se livre para perguntar nos comentários!
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